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segunda-feira, janeiro 22, 2007

Palavras em água


Ainda bem que hoje choveu.
Ainda bem que estava na rua quando começou a chover.
(Água dissolvente)
Ainda bem que caiu sobre mim essa miúdinha água _ lavou levou os pensamentos.
(Água travestida de chuva)
Assim do nada, num pedaço de céu azul, uma mistura de múltiplos tons de cinzento apaga, com dificuldade, o Sol que quer sair, florescer. Começa a chuviscar.
(Água solta apagando o afago do fogo)
Olho momentaneamente para o que me rodeia: uma pequena estrada, uma rua bem movimentada, onde o som ruídoso dos carros abafava o ténue murmúrio dos pequenos chuviscos, que se tornavam cada vez mais intensos, como se quisessem gritar; os ramos abanando ao soprar do vento; ao longe, um pilar da ponte sobre o agitado rio...
(Água pacata travestida de turbilhão)
Caminho lentamenete com uma pressa crescente.
Sinto-me solta, voando aos círculos, saboreando o vento, ouvindo os seus sussurros gritantes, flutuando mansamente na chuvita que murmura com fome de se revelar, com sede de se dar a conhecer. Sou uma daquelas folhas acastanhadas caídas pelo chão. Rebolo e volto ao lugar.
Estou limpa. Posso continuar.
Molhada páro: estou defronte à porta.
(Água parada onde estagnam os impulsos)
(Água onde não há sede)
(Água em palavras)

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Aninha, adoro ver como a tua escrita tem evoluído.
Para mim, é o teu melhor texto, porque pela primira vez consegui ver-te reflectida nestas palavras, como quem ve atraves da agua.
Um beijinho muito grande.
Yours, Anne.

2:38 da tarde

 
Blogger Unknown said...

está simplesmente fantástico...e nao me ocorre nada a acrescentar, adorei! beijinhos Rita

10:30 da tarde

 
Blogger Tiago Rodrigues said...

Mania de pensar que imita o Ricardo Reis

2:51 da tarde

 

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