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sexta-feira, junho 27, 2008

História de sentido inexistente


Um outro dia de Verão chegou ao fim.
Apetece-me escrever uma história sem qualquer sentido, sem qualquer utilidade. Escrever por escrever, assim sem fim. Como voz rouca em fundo opaco, que só vê quem quer. Locutor de rádio esquecido por detrás da sua voz definidamente desconhecida. Apenas passo jingles fumegantes na cabeça de quem os ouve.
Um silêncio. É tudo o que preciso. Um silêncio vindo da tua voz. O conteúdo gritante da tua respiração cerra os punhos por ti. E vai à luta. Acaba mais uma música.
Fujo na noite de Inverno, vejo-a ali na televisão. Não. Não, hoje já é Verão! Mas perco-me nos pensamentos daquela miúda que passa o portão de madeira, aquele belo jardim de aldeia. Ou serei eu?
Nem sempre nos conseguimos lembrar daquilo que um dia nos deu um sorriso.
Uma história sem pés nem cabeça, sem nexo obscuro.
Exorcizo aquela imagem flutuante; ela faz-me recuar horas no tempo. Mas parece mortificar-me os sentidos, sobressaltar-me, borbulhar em mim, levar-me ao céu com um brilho nos lábios.
Olha, aquele toque na tua perna não me é estranho, sabes?
Está mais nítida! E corre atrás de mim para me agarrar! Cerra os dentes, fecha os olhos, não te deixes dominar.
O fumo branco do cigarro do condutor da frente embala-me, de novo. Abrasa e brinca comigo, faz-me perder, tal como ando em minha cabeça.
Que horas serão? Eu fiquei lá atrás, naquele filme que adormenta os movimentos. Mais um toque particular, bem perto. Já conheço bem.
Apetece-me escrever uma história sem qualquer sentido, sem qualquer utilidade. Já disse isto hoje?
Uma história, apenas.
Fluiu, baralhando-se no seu sentido inexistente, perdendo-se em si mesma. E um outro dia de Verão chegou ao fim, contigo no sentido oposto às horas que se apagam.