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terça-feira, agosto 14, 2007

Sempre Comigo

Ali estava ele. Momentaneamente incessante. Fino e agudo. Ruído afiado, como um espinho. Depois de tantas vezes, de um hábito tão seduzido, hoje é mais um dia em que parece esquecer-me do seu som ininterrupto. Como posso eu ter-me esquecido?
Tal como o toque da tua mão, o cheiro do teu corpo, a expressão do teu gesto.
Um hábito que me parecia nada mais do que aquilo mesmo: um hábito. Súbita e subtilmente, sem que eu me apercebesse, esse hábito transformou-se. Aos meus olhos, tal como os teus olhos que me observam, o som da tua voz que me atrai, passou de simples memória pensante e viva a uma discreta confissão agora oscilante.
Lá está o som, o ruído, novamente. Ouço-o tão bem…
A tua presença risonha e o calmante não-palavrear de ti proveniente eram rubi. Agora, esmeralda.
A pedra foi lançada ao lago: já nada será igual; sem querer (querendo), já tudo está diferente e não voltará ao que era, jamais. Resta-nos esperar que a pedra chegue ao fim do seu caminho, até ouvirmos o claque, depois de uma boa jornada cheia de atritos, pedra que ficará polida com o tempo e a experiência. Enquanto isso, observamos o ondular do lago e tentamos, com ele, descobrir o que nos acontecerá. Navegamos com ele, deixando-nos ir.
É disso que vivemos: de esperar que a pedra chegue ao fim do lago, tentando adivinhar por entre a ondulação.
Não somos (não és) o que éramos (o que eras) ontem. E não seremos (não serás) o que éramos (o que eras) hoje. Tudo pode mudar e nós já mudámos.
Ofusco-te de outra forma, uma que ontem não era e hoje será. Sinto falta de outra maneira de seres. Brinco com o teu gesto ao sorrir e ouço-te proferir outras palavras, que gosto. Tal como as anteriores. Faz-me querer a tua mão, para me apoiar.
Não me esqueci do ruído, curto-longo e afiado. Ele está mesmo aqui, aqui… hábito seduzido a seduzir-me, assim como tu. Não me esqueci: é impossível esquecer.