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terça-feira, maio 27, 2008

E quem disse que depois do adeus se formarão para sempre os soldados?
Eles vão e vêm, como duas pombas brancas de Liberdade.
Vivem a vida com um sorriso temperado e sabem que da presença da morte nada esperam.
E seguem.
Fogem.
Mas lutam.
Difusos em guerras imundas, tal as suas belas almas.
Depois do adeus, só eles permanecem.

quinta-feira, maio 22, 2008


No espaço do nada que é tempo, surge uma mão meio-cheia e outra cheia de nada.
Ar que flutua no interior de um pensamento abstracto e sóbrio. Aqui em menos que nada, grita. Porque és vivo e humano. Senta-te no degrau da escada que nada é e fala sozinho, doido e com todo o direito a sê-lo. Protesta. E se para cada um de nós houvesse um Sol diferente? A Lua brilharia todos os dias, radiante, e seríamos livres. Felizes e de largas pegas enraizadas. Abrangeríamos o Mundo. Abraçaríamos o nada, sabendo que ele seria o nosso tudo. Aqui, ali, acolá, no nada e no tudo, um Sol diferente reluz em cada um de nós. Portanto, este nada de todos os dias, puro pão de felicidade, é a nossa casa.

segunda-feira, maio 19, 2008

Vésperas de Chuva

Hoje estou num aqueles dias em que não tenho futuro.


O poço está vazio, não lhe vejo o fundo.
Muita água rolou. Deslavou.
Praia sabia bem, mas com vento, Sim…
A guitarra toca, piano-saxofónico da desilusão
E a canção canta, canta fogo
Vela redonda, ardente nuvem e
Gira, gira, gira…
Caminho de arredores: fantasmas em
Forma de gente. Cheio,
Meio-cheio, quiçá vazio já.
Esqueci? Apenas tentei…


"Love, love
Ain't this enough?
You push yourself down
You try to take confort in words
But words, well, they cannot love
Don't waste them like that
'Cause they'll hurt you more."



Conforto à distância. Sem razão?
Dança que abala a dança descansa
Acesa? Sem razão, mais desilusão.
Carpe Diem sem futuro
Fruto colhido do escuro
Entre o que não é encontrado.
Eu não sou Senhora do Tempo,
Mas já sei que vai chover...


Hoje estou num daqueles dias em que não tenho futuro.



"Não vai passar nunca, pois não?"
"Não sei..."



Sinceridade aguda: a morte enunciada de mais um artista sem arte, sem conforto, nem futuro...

sábado, maio 10, 2008

Será possível alguém me fazer sentir assim,
Trocando apenas olhares de mistério, suspeitos?
Sabes lá do que me perco no teu ser
Te de desejo e te quero ter
Adoro o teu cheiro, o teu andar, o teu ser, o teu olhar
E isso está-me a arrasar…

Será que podes ser um pouco da minha vida?
Será que posso ser um pouco da tua vida?
Será que queres ser um pouco da minha vida?
Será que quero ser um pouco da tua vida?

Deixa-me à deriva e dá cabo de mim
Trocando apenas olhares de mistério, suspeitos.
Sabes lá do que me perco no teu ser
Que te de desejo e te quero ter
Adoro o teu cheiro, o teu andar, o teu ser, o teu olhar
E isso está-me a arrasar…

Será que podes ser um pouco da minha vida?
Será que posso ser um pouco da tua vida?
Será que queres ser um pouco da minha vida?
Será que quero ser um pouco da tua vida?

Quero-te a tempo inteiro
Mas quero mais
Quero-te a tempo inteiro
Mas quero mais…


(Filipe Gonçalves - "Na Cor de Cada Coisa")

sábado, maio 03, 2008

Como se o mundo só a eles pertencesse

Três da tarde. Eles lá estavam, naquela esplanada de fim de almoço.
Vejo-os de lomge. Devem falar do tempo. Até adivinho o que dizem.
- "Este tempo faz-nos tão bem."
- "É verdade, parece que nos liberta e nos faz apaixonar..."
As cores alegres e o movimento extasiante da Baixa abafava os seus murmúrios e as suas vestes suaves de Verão.
Ele tira do saco uma caixinha. Ela sorri. Pegam no copo com que brindaram e beberam.
O movimento passa pelas estradas enquanto eles continuam, serenos, como se o mundo só a eles pertencesse.
Eu pareço compor uma canção - conheço-lhes os próximos passos. Também já os fui, em sonhos.
Sonhando, eles voaram alto. Meu desejo puro ensaiaram.
Ali era a sua casa - felizes.